A Revolução Restauradora foi um movimento revolucionário violento deflagrado em Porto Claro em fevereiro de 1998, após terríveis denúncias de traição do então rei João I. Na liderança do movimento esteve Pedro Aguiar, seguido de Henry McCaster e Barbara Martins (então em Orange). O movimento teve por objetivo pôr fim ao governo libertino do Partido Verde e seu aliados e restaurar a legítima monarquia aristocrática. O movimento eclodiu em 9 de fevereiro, com um boicote ao governo anunciado por Pedro Aguiar, então chanceler do Reino. A 11 de fevereiro, com o auxílio não-oficial de tropas estrangeiras, o movimento destroçou a guerrilha republicana e bombardeou São Herculano. No episódio, o rei fugiu covardemente, e Pedro Aguiar coroou seu irmão João Marcelo como novo rei. Os revolucionários restauraram o poder aristocrático, o regime Social-Nacionalista e impuseram um governo de censura. A Constituição de 1996 foi restaurada. A maior parte dos derrotados, incluindo o rei e o primeiro-ministro depostos, fugiu para uma "micronação-clone", também chamada Porto Claro, mas sob a forma de república presidencialista, que não reconhece a Revolução como vitoriosa e classifica o Reino do Porto Claro como falso.
Contexto prévio
A situação do Reino pós-Intentona Piranhesa não era tão harmônica e coesa quanto tinha parecido durante as semanas logo após a crise. O fato de haver uma ameaça comum a verdes (reformadores) e monarquistas (tradicionalistas) fez com que esses dois blocos distintos se unissem na ocasião, mas a aliança se desfez logo após a derrota dos conspiradores.
O Reino mudara muito desde o início de 1998. Vários aspectos da organização social, política e cultural estavam sendo transformados pela entrada de novos cidadãos, em sua maioria anti-portoclarenses e pró-brasileirismo: não entendiam que Porto Claro era uma micronação com cultura original, singular, e pretendiam transformá-la numa miniatura do Brasil, como república, democrática e federativa. Entre esses aspectos, por exemplo, a divisão da sociedade em clãs; o último clã expressivo a aparecer fora o dos Dansk, que embora efêmero (durou menos de um mês) era grande (cerca de oito pessoas) e tomou várias iniciativas ao entrar, como a criação de uma faculdade e uma revista – que nunca funcionaram, na prática.
Outra mudança significativa nos hábitos do cidadão comum portoclarense foi o súbito desinteresse pela política e interesse excessivo pelo esporte, pela poesia, pelo cinema e por outros temas nada relacionados à vida aristocrata que se cultivava até então. As grandes recepções nos palacetes de São Herculano foram substituídas por jogos de futebol eletrônicos (via FifaSoccer e outros sistemas); o culto à majestade foi trocado por saraus de poesia e as pinturas homenageando a família real deram lugar a exposições “virtuais” de “arte moderna”.
As mudanças, inclusive, eram bem-vindas e estimuladas pela nove elite dirigente do País, formada pelos burocratas do PV e pelos empresários novos-ricos.
Em dezembro de 1997, popularizou-se o uso do ICQ (I seek you, “eu te procuro” em inglês), programa utilitário que serve para realizar chats especificamente com cidadãos portoclarenses e permite saber que outros compatriotas estão online ao mesmo tempo. A utilização desse programa significou um considerável avanço nas comunicações do País. Mais cidadãos passaram a conhecer mais cidadãos, melhor e em menos tempo. Vários fatos da vida social transferiram-se da Lista do Reino para o ICQ, fazendo polarizar cidadãos em torno de alguns núcleos.
O primeiro núcleo a se formar foi o grupo dos “sociais-democratas”, que se aglutinaram em torno do rei João I, de Francisco Russo (dono da Folha de Porto Claro, jornal que a partir de setembro de 1997 tenta concorrer com o Diário Portoclarense), Octávio Villarinho (remanescente do PDPC), Louis Saint-Paul e Fernando Carvalho de Castro (o mais exemplar senador da História Portoclarense). Eles haviam sido os primeiros a usar o ICQ e formaram um partido que se dizia democrata, de centro-esquerda e republicano. Para batizar o partido, recorreram à antiga legenda de Lamarcq Jackson e Tisserand (sob sugestão do próprio Chanceler Daniel Aguiar) e refundaram o PSDN. Curiosamente, o próprio monarca estava presente (e à frente) entre os que defendiam o regime republicano. Na prática, são árduos defensores do liberalismo político e do conservadorismo econômico, da burocracia parlamentar, da ideologia direitista e da famigerada república.
Também republicanos, mas desde o início, os verdes se reorganizaram e conquistaram mais adeptos e mais poder, colocando Marcelle Carnevale (esposa do primeiro-ministro) na presidência do Senado, em substituição ao emigrado Filipe Oliveira. Os verdes conseguem a adesão de vários novos cidadãos, mas perdem força quando Vítor Bertini e André Sengir (este, ex-ministro da Imigração e aquele, o atual, ambos membros do PV) deixam o País, juntos.
O último núcleo a se formar foi o do Partido Nacionalista, em teoria de extrema-direita mas em boa parte herdeiro dos ideais de Leonardo VI. Seu líder a princípio é Lucca Dalbianco, que meses antes tentara criar uma micronação própria e se frustrara. Mais tarde, o PN será isolado como tradicionalista e acabará aderindo ao republicanismo para não perder força. Além desses, foi também criado o Partido Marxista dos Trabalhadores Unidos (PMTU), uma extrema-esquerda oriunda do PV, mas inexpressiva politicamente.
As alianças não se restringem ao plano político e incluem também a economia, sob a forma das empresas. Os grupos empresariais “FPC” e “microCadê?”, de Francisco Russo e do rei, respectivamente, formam um joint-venture permanente, assim como as empresas Aguiar e a “BlackCat Corp.” de Lucca Dalbianco. Em dezembro, o sistema de troca de serviços sem moeda vigente em PC é batizado de “neoescambo”.
Retorno de Pedro Aguiar
Daniel Aguiar, que havia sido o catalisador de todos os conflitos internos e externos desde dezembro de 1996 (um ano antes, portanto), encerra suas atividades aos poucos durante o último mês do ano: acaba com o PCPC (do qual ele era o último membro restante), partido extinto pela terceira vez em cinco anos; desmantela a Aguiar Corporations S/A para tentar juntar-se aos outros grupos empresariais; e finalmente é assassinado durante uma visita a Pirraines, tendo sido baleado no dia de Natal, ficado em coma durante quatro dias e morrendo exatamente no aniversário de seu avô, Pedro.
E é exatamente a cargo de Pedro Aguiar que fica a maior surpresa do ano: o empresário que supostamente morrera num acidente de avião durante ao fugir de Sérgio III, retorna ao País, revela que esteve numa ilha caribenha controlando os atos do neto e promete revolucionar toda a Nação, seguindo uma trajetória política completamente distinta da de Daniel.
De fato, Pedro Aguiar cumpre essa promessa em pouco tempo. Embora o discurso que faz no enterro de Daniel seja outro (apresentando-se como religioso, republicano e direitista), as atitudes do Cidadão Nº1 de Porto Claro são apavorantemente radicais e transformadoras. Alinha-se com o PN, recebe o cargo de chanceler das mãos do primeiro-ministro Carnevale e propõe várias reformas ao Senado, como a Lei de Internet e as alterações no regulamento da casa. Chega até a elaborar um projeto de república parlamentarista, para tentar salvar minimamente as instituições tradicionais, mas é boicotado pelos democrata-republicanos PV + PSDN (adversários, mas aliados quando conveniente).
Influência estrangeira
A nova polarização de forças políticas torna-se evidente. A transformação de Porto Claro em uma república presidencialista parecia inevitável em janeiro de 1998. É ali mesmo que os portoclarenses começam a reconhecer como existente uma outra força no cenário micronacional latino. A aproximação com essa outra micronação se deu de forma ambígua. Enquanto o bloco republicano criticava severamente o absolutismo e as leis preconceituosas daquele país (Rafael Braga, quando primeiro-ministro interino, chegou a provocar a suspensão das relações entre os países até que o PV deixasse o poder), os nacionalistas admiravam a força-de-vontade dos políticos estrangeiros em elevar o nome de seu país e o culto à tradição e à pessoa do monarca, já esquecido em terras portoclarenses.
No final daquele mês acontece o primeiro encontro intermicronacional lusófono de que se tem registro: um jogo de futebol em FifaSoccer, de Porto Claro contra essa outra micronação – derrotada pelo Reino por 4 x 2. Naquele encontro ficou claríssima a posição dos portoclarenses que eram pró e contra a influência estrangeira, e vice-versa.
Como toda situação que precede uma mudança brusca, a sociedade se radicalizou aos extremos; de um lado os tradicionalistas, em franca minoria; e do outro os reformadores, ansiosos para reduzir Porto Claro a uma república presidencialista. Foi do exterior que partiu a instigação gota-d’água para que acontecesse a transformação mais dramática que Porto Claro vivera desde sua fundação: a Revolução Restauradora.
O pretexto alegado para a eclosão da Revolução foi a aliança do rei aos traidores laranjianos, mas o verdadeiro motivo era a inconformação com a total deturpação que os cidadãos pós-Boom! vinham realizando em Porto Claro. Eles mal-entenderam PC como uma monarquia aristocrática anti-democrática, e pretenderam criar uma micronação à imagem do Brasil. Pedro Aguiar chegou a isentá-los de toda culpa, admitindo que ele mesmo não soubera explicar aos novatos as suas verdadeiras intenções, mas lamentou que aquilo que eles tinham em mente era “qualquer outro país, menos Porto Claro”. O que Pedro Aguiar fez com a Revolução foi simplesmente resgatar todo o espírito portoclarense legítimo.
Mobilização revolucionária
Pedro Aguiar, à frente das forças nacionalistas e com todo o apoio internacional, mobiliza tropas e ocupa à força a capital, São Herculano. Os governistas se aninham em Pirraines e Campos Bastos, onde são acuados. Expedindo dois manifestos diferentes (um interno, “Isto Não É Porto Claro” e outro externo, “Declaração Universal de Independência”), Pedro Aguiar se apodera do Governo, da estrutura administrativa do País, dos contatos externos e é imediatamente reconhecido pela maior parte das micronações como nova autoridade legítima em Porto Claro (afinal, já era ele mesmo quem tinha os contatos diplomáticos). Decreta a expulsão de todos os cidadãos menos ele (incluindo seus próprios aliados), e ainda tenta prender o rei e o primeiro-ministro, que conseguem fugir. Depõe o rei João I e instala no trono o seu irmão mais novo, o atual Rei João II, então com 6 anos de idade, para criá-lo como um verdadeiro rei micronacional, bem-preparado e doutrinado dentro dos princípios verdadeiramente portoclarenses.
À frente do novo Governo Revolucionário Provisório, que oficialmente durou um ano, Pedro Aguiar assumiu o cargo de primeiro-ministro, voltando à cadeira em que sentara seis anos antes, e foi transformado no Grande Tutor da Pátria, com mandato vitalício, e plenos poderes sobre o País – para garantir que não houvesse mais nenhuma deturpação dos princípios originais do Reino. A monarquia estava salva e o destino de Porto Claro também.
Barbara Martins, que havia ido para Orange durante a intentona, regressou e foi feita Regente Real em nome do Rei-menino João II. Henry McCaster, que tinha tido participação direta e secreta na revelação do escândalo de corrupção do PSPC, tornou-se vice-primeiro-ministro, e os demais irmãos de Aguiar, Mariana e André, entraram em PC para formarem a nova Família Real, como Princesa-Herdeira e Duque-Infante, respectivamente. Também o primo da família, Ronaldo Calçado Jr., de Minas Gerais, entrou para cuidar dos assuntos internos do Reino. Desde maio do ano anterior não havia uma dinastia portoclarense. Todos foram residir no Palácio Chévrebouc, antiga moradia de Tisserand, quando a Capital Real foi transferida para Nouvelle Rouen e a capital administrativa mantida em São Herculano.
Outros cidadãos que entraram em Porto Claro pouco tempo após a Revolução foram Fernando Esposito (para ser Capitão da Guarda Real, cargo que estava vago desde Felipe Cardoso), Marcus Granado (para ser major do Serviço de Segurança Nacional), Rafael Assunção (para comandar a Força Aérea, até então inexistente) e Alessandro Louzada (para trabalhar como secretário-de-estado). Também retornaram, no segundo semestre de 1998, os cidadãos Vítor Bertini (o exemplo de cidadania de toda a História Portoclarense), Rodrigo Spegiorin, que mais tarde trouxe seu primo Luciano Gomes para acompanhá-lo, e Sílvio Guilherme, que havia sido da Primeira Geração e voltou para ser Governador de Guisanburgo, antiga Campos Bastos).
Governo Provisório
O Tutor, num grande espírito revolucionário, baixou estado-de-sítio, censura prévia e tudo de mais a que um regime de exceção tinha direito. Acabou com os ministérios, dando lugar aos Comissariados de temas gerais, subdivididos em departamentos específicos (sistema que funciona até hoje).
Mas o segundo governo de Pedro Aguiar não durou muito. Em 8 de março de 1998, menos de um mês após a Revolução, portanto, ele deixou PC (mantendo-se como Tutor, é lógico) para ser Premier (chefe-de-governo) justamente no país estrangeiro que auxiliara a Revolução. Henry McCaster assumiu como primeiro-ministro imediatamente e jurou dar continuidade ao processo de reforma revolucionária. O que se seguiu, no entanto, foi um período de aproximadamente um ano de calmaria e estabilidade, o oposto do que ocorrera durante todo o ano anterior.